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A escolha do estojo de panda e a consciência do machismo enraizado



Quando finalmente pudemos sair do isolamento da Covid, a opção que mais atendeu nossa vontade de: "quero ver o mundo, mas tô com medo", foi a compra de material para a volta às aulas (e obviamente, comer algo bem gostoso porque somos taurinos).


Lá fomos nós 3 (eu, Marina e João) peregrinando pelas lojas: "Aqui tem mochila e canetinha, mas não tem estojo. Acolá tem presilhas e ligas para cabelo, mas não tem meias". Enfim, ao acharmos opções de estojos para João, pedi para que escolhesse o que mais lhe agradava. Entre o estojo do Lucas Neto, Homem Aranha e Panda, escolheu o que achou mais bonito e com mais divisórias: "quero o do panda fofinho, mãe"!


Sem racionalizar muito, perguntei: "Tem certeza? Vai ser esse mesmo? Também achei lindo, mas é esse mesmo que você quer"? Ele agora já interessado em outras coisas da loja me respondeu com um seguro SIM!


Nos dirigimos ao caixa. Recordo que ainda perguntei duas vezes se seria mesmo aquele estojo. E uma ficha caiu. Me dei conta das vozes internas em um diálogo animado: "E se algum coleguinha fizer uma piada pelo desenho do estojo? E a professora? E se rirem dele como no dia em que ele pintou as unhas? Deixa de besteira Camilla, ele vai reagir da mesma forma que já fez em outras situações! Logo você que nunca fez diferenciação com brinquedos, cores de roupas, agora tá com isso?


Paguei o estojo. Crianças felizes com suas sacolas e eu com um sorriso de canto de boca. Um misto de alegria por ver a espontaneidade do meu filho, orgulho por estar conseguindo criar meus pequenos segundo valores que acredito, e uma dose de constragimento por perceber entranhada a lógica machista em que fui criada e que, dentre outras coisas, gera medo e paralisia.


É preciso estar atento e vigilante porque por mais que estejamos engajados em uma criação mais respeitosa, as crenças e padrões culturais criam raízes em nossos comportamentos e atitudes e se tornam hábitos.


Por enquanto, esse acontecimento trivial ainda gera reflexões desse tipo. Por enquanto. Sigo na esperança de que em um futuro próximo, mães não escrevam mais a respeito, pelo fato dessas questões não serem mais QUESTÕES.


Enfim, seguimos animados para o lanche e a música de Caetano na cabeça:


🎵Atenção

Tudo é perigoso

Tudo é divino maravilhoso

Atenção para o refrão

É PRECISO ESTAR ATENTO E FORTE...🎵


Com carinho, e muito amor por meu João,


Camilla Alves





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